Resumen

A obesidade é definida pela Organização Mundial da Saúde como um problema de saúde resultado de excesso prolongado de ingestão calórica em relação ao gasto energético. Está associada a diversas doenças e não é considerada um transtorno mental, mas está relacionada a transtornos alimentares e outros transtornos mentais graves, como depressão e ansiedade. A prevalência de obesidade tem aumentado no mundo todo e estudos recentes mostram comportamentos correlacionados aos problemas alimentares, como exemplo o Grazing (ou Petisco Contínuo em Portugal). Este comportamento é compreendido como um padrão alimentar geralmente caracterizado por episódios de ingestão repetitiva de quantidades pequenas de alimentos, relacionado a recuperação do peso em pessoas após cirurgia bariátrica, elevada prevalência em distúrbios alimentares e correlação com compulsão alimentar, depressão e pior saúde mental. A partir desses importantes achados, foi desenvolvido o instrumento Rep(eat)-Q (Repetitive Eating Questionnaire), que é um questionário de autorrelato de 12 itens para avaliar o comportamento de Grazing / Petisco Contínuo sob a definição proposta pelos próprios autores, qual seja: comer quantidades pequenas / modestas de alimentos de maneira repetitiva e não planejada, sem ser em resposta à sensação de fome ou saciedade, bem como sob as principais características deste comportamento na literatura. Foi proposto ainda, pelos autores, dois tipos de Grazing: grazing compulsivo e não compulsivo. Assim, o objetivo desta tese foi aprofundar a compreensão do comportamento Grazing, apresentar uma versão brasileira adaptada do instrumento Rep(eat)-Q e realizar análises entre o comportamento e variáveis associadas. Para isso, foram realizados os 4 estudos apresentados nesta tese. O primeiro estudo apresentou um panorama sobre avaliação psicológica de transtornos alimentares e problemas alimentares associados, apresentando o conceito de Grazing e os instrumentos disponíveis para sua avaliação. O estudo 2 é uma revisão sistemática focada no Grazing e nas definições usadas, população estudada, prevalência e associações já encontradas sobre o comportamento, bem como nos gaps ainda existentes na literatura em relação a esta temática. O Estudo 3 compreendeu a adaptação e validação do Rep(eat)-Q para a população brasileira. Por fim, o Estudo 4 realizou a aplicação da versão brasileira do instrumento em duas amostras brasileiras (população comunitária e população com obesidade), além de análises de comparação entre as duas amostras, tendo como base o comportamento Grazing e variáveis associadas. De forma geral, esta tese evidenciou que o comportamento Grazing é uma forma clinicamente significativa de consumo excessivo, associado a prejuízos psicológicos importantes, presentes tanto em amostra clínica como não clínica e que deve ser considerado em um espectro de comportamentos alimentares desordenados, bem como ser também cuidadosamente avaliado, para objetivos de prevenção e intervenção.