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Os riscos do estigma da obesidade

Nutricionista faz análise de caso sobre estigma da obesidade e sugere tratamento mais humanizado da doença.

Laura Toyama Cardoso de Souza

2 de fev de 2023 (atualizado 27 de ago de 2024 às 19h42)

No início de janeiro, um jovem foi vítima da negligência do sistema de saúde com pessoas com obesidade. Vitor Marcos de Oliveira (25) faleceu na porta de um hospital na zona norte de São Paulo, depois de ter tido o atendimento negado em mais outras duas unidades de saúde, todas desprovidas de equipamentos adequados para atendê-lo.

É sobre essa negligência e sobre novas abordagens da obesidade que o nutricionista Erick Cuzziol, membro da ABESO e pós graduando em comportamento alimentar, fala na live transmitida pelo Painel Brasileiro da Obesidade. Questionando a culpabilização que ainda paira sobre os pacientes da doença, Erick sugere soluções para que os profissionais da saúde, e a sociedade como um todo, sejam aliados e acolham as pessoas com obesidade de forma adequada, para garantir a efetividade dos tratamentos disponíveis, hoje.

Reação da sociedade e o entendimento da doença

Diante do ocorrido, as reações da sociedade denunciam uma visão da obesidade que ainda se associa à culpabilização do paciente. Segundo Erick, essa reação não necessariamente é oriunda de sentimento de ódio, mas de um conflito no momento de compreender quais são os verdadeiros fatores que levam alguém à essa condição. Para desestigmatizar a doença, é necessário que a sociedade como um todo compreenda que ela é uma reação do corpo a fatores e condições aos quais todos estão suscetíveis. “A obesidade é também uma denúncia desses corpos a vida moderna que levamos”, comenta ele, “com alimentos de pouca qualidade, sem tempo para a prática de atividades físicas e outros problemas sociais”.

O nutricionista ainda aponta que o julgamento de muitos parte do entendimento de que estariam “protegidos da obesidade”. No entanto, essa concepção tem a mesma origem do pensamento equivocado de que um corpo magro, ao contrário de um corpo gordo, sempre será saudável. Essas crenças afastam as pessoas de tratamentos e hábitos saudáveis, pois têm a visão limitada de que o peso seria o único indicativo de saúde e ausência de doenças crônicas não transmissíveis.

O culto à magreza como esse indicador de saúde é também o grande responsável pelo abandono de tratamentos da obesidade, que costumam surtir efeitos a longo prazo, e possuem muitas formas de serem aplicados por profissionais. A normalização de falsos tratamentos que prometem perda rápida e significativa de gordura corporal fez as pessoas perderem a fé em linhas de cuidado reais e respaldadas por pesquisa médica, com eficácia comprovada pela ciência, e se afastar de procurar o tratamento correto para suas próprias condições. “É preciso retomar a crença no tratamento a longo prazo”, diz Erick.

O manejo da obesidade pelo sistema e profissionais de saúde

A culpabilização e a disseminação de tratamentos inadequados ainda é muito presente entre os profissionais de saúde, o que contribui para apagar o entendimento da obesidade como uma doença multifatorial. Muitos ainda não compreendem que é uma doença crônica cujos problemas estão sempre na raiz, portanto a melhor forma de combatê-la é viabilizar uma mudança gradativa de hábitos aos quais nem todos têm fácil acesso. Tempo para a prática de atividades físicas, aquisição de alimentos de qualidade, por exemplo, não são soluções que estão disponíveis para todos os grupos da sociedade da mesma forma. Para o nutricionista “É preciso entender a dificuldade de acesso das pessoas a coisas que deveriam ser direitos básicos”, argumenta, “a atividade física é um privilégio”.

Para além da incompreensão das condições sob as quais grande parte das pessoas com obesidade está submetida, muitos profissionais da área da saúde não se mantém atualizados com relação aos tratamentos e manejo da doença, além de não serem compreensivos com relação às angústias e receios que essas pessoas carregam. Com longos históricos de destratamento em hospitais e consultórios, é comum o afastamento desses ambientes, o que configura uma das principais causas da falta de tratamento adequado. “Desacreditar do paciente e suas dores também é uma forma de violência”, relata Erick.

Em adição a superar a ideia de que a doença está ligada somente à uma questão de imagem corporal, o acolhimento é muito importante no sucesso de qualquer tratamento. Para ajudar, é necessário rever a postura de cobrança, a entonação de “fracasso” quando o paciente não atinge resultados rápidos. O nutricionista sugere que os profissionais substituam a fala “é só fazer…” por “como fazer?” para que as pessoas com obesidade tenham acolhimento e orientação no momento que buscam melhorar sua qualidade de vida. “É importante ser aliado do paciente e não seu inimigo”, diz Erick.

Orientações para o tratamento humanizado da obesidade

Mesmo a especialização em obesidade não abarca alguns aspectos do cuidado, como a abordagem, o acolhimento e a escuta ativa, partes importantes do tratamento. Para além da parte técnica, há ações que contribuem muito para o avanço do combate à doença no sistema de saúde. O simples ato de usar o termo “pessoas com obesidade” e não somente falar da doença – como se não estivesse ligada a um indivíduo que, historicamente, já é invisibilizado – já configura um tratamento humanizado e qualificado por parte dos profissionais de saúde.

Erick ainda comenta sobre a importância de criar uma rede de apoio e união entre os próprios pacientes. A identificação das condições do convívio com a obesidade é importante para o bem-estar. Também serve para que as vozes somadas pressionem pelas demandas que consideram fundamentais, como equipamentos e espaços adequados para recebê-los em hospitais e ambientes públicos. “Se uma pessoa com obesidade chega num hospital e não tem uma maca e a obesidade é uma doença, estamos com um grave problema aqui” conclui o nutricionista.