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Associados a doenças cardíacas, ultraprocessados crescem no Brasil

Em live do PBO, Fernanda Rauber, pesquisadora do Nupens/USP, traça o cenário dos alimentos ultraprocessados no Brasil e no mundo

André Derviche Carvalho

26 de maio de 2022 (atualizado 7 de ago de 2022 às 17h20)

Ao final dos anos 1970, um alimento ainda bastante conhecido que mistura queijo, minerais e vitaminas ganhou uma campanha popular para chamar de sua. Os comerciais davam a entender que o produto anunciado – industrializado e destinado a crianças – poderia substituir o bife de uma refeição. “Vale por um bifinho”, dizia o comercial. Apesar de antiga, a propaganda ainda traz reflexões sobre como alimentos ultraprocessados chegam às prateleiras das lojas e às mesas das famílias e sobre quais os impactos disso.

No campo dos estudos, já há uma gama expressiva de artigos sobre o assunto. Até o final de 2020, havia pelo menos 50 deles publicados no mundo inteiro. A conclusão que a maioria deles chega é a seguinte: há uma associação direta entre a participação de alimentos ultraprocessados na dieta e o desenvolvimento de doenças crônicas, como obesidade, sobrepeso e câncer.

O que são alimentos ultraprocessados?

Boa parte dos alimentos consumidos pelas pessoas passam por algum tipo de processamento. Especialistas explicam que nem todo processamento faz mal à saúde. Alguns, por exemplo, são feitos somente com intuito de aumentar a durabilidade de produtos. Porém, além dos minimamente processados, existem os ultraprocessados. São aqueles baseados em formulações industriais, compostos de partes de alimentos.

“É um processamento prejudicial. São formulações industriais de substâncias derivadas de alimentos. Muitas vezes são quimicamente modificadas, com pouco ou nenhum alimento integral e frequentemente com aditivos cosméticos”, explica Fernanda Rauber, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP). Ela também ressalta a grande quantidade de açúcares e de gordura nesses alimentos.

Os ultraprocessados e a obesidade

Um estudo conduzido no Reino Unido acompanhou um grupo composto por cerca de 9 mil pessoas entre os seus 7 e 24 anos de idade. Ficou constatado que aqueles indivíduos que tiveram maior quantidade de alimentos ultraprocessados consumidos em suas dietas tiveram maiores aumentos no Índice de Massa Corporal (IMC).

O acesso aos alimentos ultraprocessados pode ser considerado amplo. Shoppings, mercados, postos de gasolina e até em estações de metrô são só alguns locais em que eles podem ser encontrados. Sem uma limitação sobre a circulação, Fernanda Rauber afirma que a população fica exposta a um ambiente “obesogênico”. 

Regulação dos alimentos ultraprocessados

Além de conscientizar as pessoas por meio de campanhas e de educação alimentar nas escolas, a pesquisadora do Nupens aponta que os caminhos também passam pela regulação do consumo alimentar das pessoas: “Precisamos de outras medidas que protejam a população. É muito difícil lutar contra um ambiente que favorece o consumo de alimentos ultraprocessados”.

Hoje, assistir propagandas como àquelas dos anos 1970 que sugeriam a substituição de uma carne por um alimento industrializado podem não ser mais tão recorrente. Porém, especialistas ainda apontam o marketing abusivo como obstáculo para reduzir os ultraprocessados das dietas familiares. Principalmente entre o público infantil, as cores vibrantes dos anúncios se juntam à dose aumentada de ingredientes recompensadores e à rápida absorção dos alimentos. Com isso, evitar o consumo desses alimentos torna-se difícil entre idas e vindas ao supermercado.

“Precisamos tanto de medidas que desencorajem o consumo de alimentos ultraprocessados, como taxação e medidas fiscais, quanto medidas que favoreçam o consumo de alimentos in natura e minimamente processados”, afirma Fernanda. Vale lembrar que o consumo de ultraprocessados já é desestimulado no Guia alimentar para a população brasileira, documento de 2014 do Ministério da Saúde.

Aumento dos ultraprocessados no Brasil

De acordo com as Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizadas em 2002, 2008 e 2018, consumo de alimentos ultraprocessados cresceu no Brasil. Em 2002/2003, 12,6% do total de calorias adquiridas nos domicílios brasileiros vinha desse tipo de alimento. Em 2017/2018, esse valor foi para 18,4%. Enquanto isso, o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados diminuiu.

Contudo, em uma escala global, o Brasil não ocupa a pior posição. Isso porque a participação dos ultraprocessados em refeições varia de país para país. Se no Brasil esse número está em cerca de 18%, nos Estados Unidos, por exemplo, esse valor passa dos 50%, segundo Fernanda. Além de uma cultura alimentar que valoriza mais o “arroz, feijão e carne”, a pesquisadora do Nupens aponta outro motivo para a diferença: o acesso a esses alimentos. “Uma alimentação baseada em alimentos in natura e minimamente processados no Brasil, ainda é mais barata do que uma alimentação baseada em alimentos ultraprocessados”, mas essa tendência pode mudar. Uma pesquisa que se baseou na tendência de consumo de ultraprocessados entre 1995 e 2017 indicou que o preço desses alimentos deve superar o de alimentos saudáveis até 2026.