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Acontece no PBO

Abordagem coletiva aparece como alternativa no cuidado da obesidade

Instrutivo lançado pela UFMG detalha propostas de abordagem coletiva a serem implementadas no sistema público de saúde

André Derviche Carvalho

21 de jul de 2022 (atualizado 7 de ago de 2022 às 17h20)

Tratada como epidemia no Brasil, a obesidade encontra constantemente novas propostas para ser manejada. Analisar e tratar a doença a nível coletivo e não somente individual aparece como uma das finalidades de um instrutivo elaborado pelo Grupo de Pesquisa de Intervenções em Nutrição (GIN) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A proposta é aprimorar o cuidado da obesidade das Redes de Atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio daquilo que ficou conhecido como abordagem coletiva da obesidade.

Em live do Painel Brasileiro da Obesidade (PBO), Aline Lopes, professora e pesquisadora da UFMG, identificou que tanto profissionais da saúde e para as Redes de Atenção à Saúde enfrentam dificuldades no cuidado da obesidade. Entre eles, são destacados: qualificação profissional, organização dos serviços de saúde, materiais instrucionais acessíveis e aplicáveis a diferentes realidades, e ações contínuas e efetivas que contemplem a complexidade da obesidade.

É sobre esses eixos que alguns trabalhos acadêmicos buscam atuar. O “Instrutivo de Abordagem Coletiva para Manejo da Obesidade no SUS”, por exemplo, lançado em setembro de 2021 e publicado junto ao Ministério da Saúde, sistematiza a abordagem coletiva como forma de cuidado da obesidade. Ou seja, foi considerando a obesidade como possível de ser tratada por meio de atividades em grupo que o instrutivo construído pelo GIN enxergou a doença.

Com isso, a ideia foi instruir o trabalho de profissionais da saúde tanto da Atenção Primária quanto da Atenção Especializada do SUS. “Esse profissional [de saúde] encara o tratamento da obesidade como algo muito difícil, que não pode ser responsabilidade só do nutricionista. Eles identificaram a abordagem coletiva como aquela que eles tinham mais dificuldade de realizar”, relata Aline reafirmando a importância da formação de equipes multiprofissionais, para além da nutrição, no tratamento da obesidade. “É importante essa organização do serviço de saúde, porque assim temos profissionais com condições de fazer educação permanente e de qualificar suas ações”, completa.

Como base, esse e outros instrutivos têm o Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC). O documento é dividido em cinco níveis, indo desde intervenções de promoção à saúde (como promoção da alimentação saudável) até a gestão de casos.

A obesidade no território brasileiro

Com relação ao nível de aplicabilidade do instrutivo sobre a abordagem coletiva da obesidade, Aline destaca: “Ele precisa ser adaptado conforme a realidade local. Quando construímos o material pensando no Brasil, temos que pensar em muitas alternativas de adaptação. Quem está lá na ponta é quem conhece a realidade e precisa fazer essa adaptação”. Até por essa razão, monitorar os resultados e a eficácia da proposição do instrutivo não é uma tarefa fácil, já que cada unidade de saúde do país tem uma realidade específica.

Outra dificuldade relatada no processo de avaliação de resultados é a divergência entre o tempo de elaboração de materiais via pesquisa acadêmica e o tempo de uma gestão no Ministério da Saúde. Ou seja, o tempo elaboração de uma pesquisa científica pode ser maior que a duração de um executivo no Ministério da Saúde. “Os tempos são muito diferentes”, afirma Aline. Além disso, o processo de avaliação de ações como abordagem coletiva da obesidade requer um novo financiamento, que nem sempre existe. “Quem dera se o pesquisador no Brasil tivesse o recurso financeiro e o tempo para fazer tudo que exige”, completa.

Estratégias para prevenção e controle da obesidade

Quanto ao conteúdo, o instrutivo sobre abordagem coletiva da obesidade propõe a divisão dos pacientes em quatro grupos, sendo três terapêuticos e um motivacional. A ideia geral é respeitar aquilo que é chamado de “prontidão de mudança”, que nada mais é do que entender o quão dispostos os indivíduos estão a perder peso. Caso esse interesse seja baixo, o grupo motivacional atua para mudar essa percepção, sempre respeitando as vontades dos indivíduos com obesidade. “Nós não estamos prontos para mudar necessariamente agora, cada um tem seu tempo de mudança”, afirma Aline.

Com o indivíduo já tendo iniciado o processo de perda de peso, a pesquisadora lembra da importância de se ter um tratamento continuado de pelo menos seis meses: “Para determinada mudança de comportamento se tornar um hábito, precisamos de um tempo fazendo e exercitando aquilo”. Outras medidas como o automonitoramento de peso e a busca por um atendimento médico também são destacadas, inclusive, para prevenir novos quadros, tendo em vista que a obesidade é uma doença crônica.

As ações levantadas pelo instrutivo passam por oficinas presenciais e outras medidas remotas, como o acompanhamento via mensagem de texto, ligações e até cartões postais. O grau de dificuldade de implementação de cada uma é quantificado no instrutivo para melhor direcionar os profissionais de saúde que desenvolvam trabalho com base nesse material.

A pandemia e o cuidado da obesidade

Porém, com a pandemia, a realização de atividades coletivas como oficinas encontrou obstáculos. Em Belo Horizonte, por exemplo, onde se pretendia testar a atividade de grupos terapêuticos, essa realização foi impedida. Ainda assim, a pesquisadora da UFMG contou que profissionais da saúde de outras regiões do Brasil já elogiaram os métodos preconizados no instrutivo. “Eu espero que os municípios implementem e nos contem.”

Aline também revelou na live do PBO que o GIN planeja lançar até o fim deste ano outro instrutivo, desta vez a respeito da abordagem individual da obesidade, o que inclui formas de lidar com o paciente sem estigmatizá-lo.