A chegada da internet é estudada por diversas áreas. A saúde está entre elas. Com as redes sociais, pessoas de forma geral passaram a ter contato com novos tipos de informações e de conteúdos. Quando se trata de cuidado da obesidade, tamanha quantidade de estímulos representa um desafio para a relação entre médico e paciente e para a comunicação em saúde.

“Hoje, as pessoas têm mais informação sobre saúde, ao mesmo tempo, elas não têm o conhecimento profundo da saúde”, contextualiza a jornalista Natalia Cuminale, especialista na cobertura da saúde e diretora de conteúdo da startup Futuro da Saúde. Ela alerta para a existência de conteúdos superficiais e pouco embasados cientificamente sobre saúde na internet. Natalia participou de live do PBO (Painel Brasileiro da Obesidade).

Se antes os estímulos dos meios de comunicação eram mais lineares, se concentrando principalmente na TV e no rádio, hoje, as redes sociais trazem uma gama muito mais diversa de mensagens. Quando se trata de saúde, fica mais difícil saber qual é a mensagem confiável e qual não é.

Por essa razão, Natalia estimula que os médicos ajudem seus pacientes a realizar uma curadoria dos tipos de informação que eles consomem na internet. Afinal, pode ser interessante ter formas mais acessíveis de consumir certos conteúdos, desde que eles sejam verificados e agregadores.

Assim, uma boa prática a ser adotada dentro do consultório é perguntar ao paciente quais perfis ele segue nas redes sociais. “Se você [médico] sabe que boa parte das pessoas consome informação pelas redes sociais, descartar tudo que se passa lá sem trazer para a conversa afasta o seu paciente”, diz Natalia. Assim, o profissional de saúde tem ciência das influências que seu paciente está recebendo.

Cuidados para a obesidade nas redes sociais

A obesidade é entendida como um fenômeno complexo e multifatorial. Por isso, especialistas alertam para os perigos de abordagem simplificada da doença. As redes sociais podem ser locais propensos para isso. Por exemplo, não é raro ver por lá postagens e influenciadores colocando o cuidado da obesidade como um processo linear, resumido a um simples “antes e depois”.

Tal abordagem, no entanto, pode trazer uma perspectiva culpabilizadora à pessoa com obesidade. Além disso, as imagens que circulam nas redes, como fotos de pessoas com sobrepeso e a famosa fita métrica, podem criar uma visão estigmatizada da doença. Nesses casos, é preciso priorizar o conteúdo verdadeiro, que faz a diferença na vida da pessoa com obesidade.

O papel das redes sociais na comunicação em saúde

Quando se trata de saúde, a melhor informação deve também ser aquela que a pessoa entende. Por isso, um influenciador digital que saiba comunicar bem do ponto de vista da saúde é uma ferramenta valiosa. Aliar isso a um atendimento acolhedor dentro do consultório só melhora a qualidade do cuidado.

Por essa razão que médicos devem estar cada vez mais atentos ao que os pacientes consomem nas redes sociais, estando também abertos para esse trabalho em conjunto. “Pensando no futuro da comunicação, vai ser cada vez mais importante entender os veículos ou as formas e formatos de consumo de informação que são seguros para a nossa saúde”, aponta Natalia.

Assim, o que o paciente consome nas redes sociais vira mais um componente da bagagem que ele traz para a consulta. Conhecendo essa bagagem, o médico evita um tratamento frio e impositivo e encontra espaço para estabelecer mais acolhimento e confiança. “Acredito que vamos ter um futuro da saúde mais colaborativo, em que todos tenham mais voz e haja um papel cada vez maior das tecnologias. Temos desafio de transformar a sociedade em mais empoderada sobre a própria saúde”, conclui Natalia.