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Acontece no PBO

O experimento que foi referência no cuidado da obesidade

Criados no Rio de Janeiro, Centros de Referência em Obesidade (CROs) fortaleceram o cuidado da obesidade na rede pública de saúde

André Derviche Carvalho

14 de abr de 2022 (atualizado 7 de ago de 2022 às 17h20)

Até 2013, o Ministério da Saúde ainda não havia publicado duas das principais portarias que iriam guiar as linhas de cuidado para obesidade no país. Mesmo assim, dois anos antes, em 2011, o estado do Rio de Janeiro inovou. Naquele ano, o serviço público de saúde fluminense desenvolveu uma experiência que ajudou na promoção de um cuidado mais integral ao paciente com obesidade. A iniciativa foi chamada de Centro de Referência em Obesidade (CRO).

Entre 2011 e 2012, foram inaugurados os três CROs do Rio de Janeiro nos bairros de Acari, Penha e Madureira. Lá, indivíduos com Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 40 kg/m³ eram encaminhados para profissionais de saúde da cidade do Rio de Janeiro. Em 2011, a capital fluminense tinha 16,5% da sua população adulta com obesidade, segundo a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde. O encaminhamento para os CROs podia se dar por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou diretamente pelos Centros de Referência.

As linhas de cuidado dos Centros de Referência em Obesidade

Antes de aprofundar no funcionamento dos CROs, é preciso compreender o conceito de linha de cuidado da obesidade. A expressão faz referência ao conjunto composto por formas de organização da atenção e dos serviços de saúde. No Brasil, a linha de cuidado da obesidade no sistema público de saúde pode ser dividida em Atenção Básica, Atenção Ambulatorial e Atenção Especializada. É no eixo Ambulatorial que os CROs aparecem. “O primeiro e máximo objetivo é melhorar a qualidade do cuidado”, afirma a professora e pesquisadora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Erika Reis em live para o Painel Brasileiro da Obesidade (PBO).  

Ter uma linha de cuidado bem estabelecida, seja para qual for a doença, é essencial para garantir o acompanhamento e, consequentemente, um tratamento mais efetivo ao paciente. “Esse indivíduo só consegue voltar para a equipe que encaminhou ele conhecendo a história de vida dele. Quando ele não tem um vínculo, raramente retorna”, aponta Erika citando principalmente o caso da indicação da cirurgia bariátrica, que exige mais atenção após a realização do procedimento.

As equipes dos CROs

O fluxo do atendimento dos CROs envolve profissionais de cinco áreas: enfermagem, psicologia, nutrição, educação física e endocrinologia. O atendimento oferecido por essas equipes multiprofissionais é destinado a indivíduos adultos com obesidade já classificada como grave, muitos com a cirurgia bariátrica já indicada. Erika lembra que já atendeu indivíduos com IMC acima de 90 kg/m²: “Começamos a olhar para pessoas que não saíam de casa, porque são níveis de obesidade que a gente não consegue nem imaginar”.

Os diferenciais de um Centro de Referência em Obesidade aparecem principalmente na relação construída entre o serviço de saúde e o indivíduo com obesidade. Primeiramente porque esses centros estavam localizados em unidades da Clínica da Família, que são componentes da Atenção Primária do Sistema Único de Saúde (SUS) e buscam focar em ações de prevenção, promoção da saúde e diagnóstico precoce de doenças. Segundo Erika, essa configuração serviu para aproximar as equipes de saúde dos territórios aos quais elas atendem.

Quanto às estratégias terapêuticas, um Centro de Referência em Obesidade oferecia consultas individuais, bem como atividades coletivas. A construção desse projeto terapêutico era compartilhada entre o profissional da saúde e o indivíduo com obesidade. Nesse sentido, a frequência de visitas dos pacientes, por exemplo, era definida por eles mesmos a partir de suas disponibilidades. As equipes recomendavam pelo menos uma visita por mês. Dessa forma, fatores como a aceitação a prescrições e a mudanças nos hábitos de vida eram aderidos com base na frequência de visitas do paciente.

Centros de Referência em Obesidade: que fim levaram?

Atualmente, não existem mais CROs no Rio de Janeiro. O último deles foi fechado no início de 2020. Erika relatou que a gestão desses centros estava “isolada” do restante dos eixos da linha de cuidado da obesidade: “Ainda que o serviço fosse muito importante para aquelas pessoas, não ter uma porta de saída para onde esses indivíduos poderiam ser encaminhados e acessar outros pontos da Rede de Atenção à Saúde fazia com que ele [CRO] oferecesse um cuidado isolado”. Os CROs eram vinculados à Secretaria Estadual de Saúde do Rio, a qual teve dificuldades de comunicação com os centros, segundo a professora da UFOP.

Erika também citou a inacessibilidade da cirurgia bariátrica como obstáculo para a maior efetividade dos CROs. Até hoje, o Rio de Janeiro é um dos estados que menos realiza esse procedimento. No ano de 2019, foram somente 47 procedimentos pelo SUS. São Paulo, estado vizinho, realizou 1.636 cirurgias. Os dados foram divulgados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

“Encontramos experiências muito pontuais olhando para a obesidade de forma integral”, indica Erika. Ainda assim, a experiência vivida dentro da iniciativa pode servir de referência para projetos futuros a serem realizados por gestores públicos da saúde. O modelo de acompanhamento pré e pós cirurgia bariátrica e uma boa articulação tanto com a Atenção Primária quanto com a Especializada são boas práticas a serem adotadas.