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Laboratório usa cuidado interdisciplinar para obesidade grave

Iniciativa no estado do Rio de Janeiro oferece abordagem interdisciplinar para o cuidado da obesidade grave

André Derviche Carvalho

1 de fev de 2024 (atualizado 2 de set de 2024 às 20h08)

O cuidado interdisciplinar é uma das chaves para um tratamento efetivo da obesidade. No caso da obesidade grave, ele surge não só para ajudar na redução de peso, mas para restabelecer a saúde mental do indivíduo.

Um grupo da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) realiza um trabalho interdisciplinar para obesidade grave desde 2017. Em live do PBO (Painel Brasileiro da Obesidade), a professora Luciane Pires, que coordena o grupo, trouxe detalhes da experiência.

O Laço (Laboratório de Assistência à Obesidade) nasceu em 2021 na Uerj em uma parceria com o SUS (Sistema Único de Saúde). Porém, antes disso, em 2017, grupos de especialistas da área já trabalhavam com o cuidado interdisciplinar da obesidade. Primordialmente, os trabalhos eram estruturados sobre três abordagens: a da psicologia, da nutrição e da educação física.

Consolidado sobre o tripé ensino, pesquisa e extensão, o grupo da Uerj trabalha com casos de obesidade grave. Entre eles, os profissionais de saúde encontram dificuldades extras em relação a graus mais baixos de obesidade. Por exemplo, uma pessoa com obesidade grave possui dificuldades maiores de locomoção, o que pode inibir a prática de atividade física.

Assim, o Laço atua vai além da prescrição de exercícios físicos e adota um cuidado interdisciplinar da obesidade:

  • Psicologia: promovem encontros de grupo em um espaço seguro para troca de experiências. Por meio da psicoeducação, a ideia é compreender e ganhar ferramentas socioemocionais para o manejo da obesidade;
  • Nutrição: oferecem estratégias para uma boa alimentação dentro da rotina diária. Adotam estratégias de ressignificação do alimento rumo a uma alimentação prazerosa e não compensatória para ansiedade e angústias;
  • Educação física: promovem um trabalho em grupo que também é personalizado. Nesse sentido, a ideia é fortalecer o autoconhecimento do corpo e, a partir daí, o seu movimento.

O cuidado interdisciplinar da obesidade grave

Além dos atendimentos presenciais, o Laço destacou-se na pandemia realizando o acompanhamento a distância dos pacientes. Desse modo, os resultados atingidos envolveram o cuidado da saúde mental de indivíduos com obesidade grave e a contenção do ganho de peso.

Sobretudo, o Laço atua em parceria com o SUS. “A gente pôde reavaliar as pessoas e receber outras pessoas através do serviço especializado do SUS, que pudessem usufruir desse tratamento interdisciplinar a distância”, relata a professora Luciane Pires.

A respeito do fluxo de trabalho, a coordenadora do Laço explica que os pacientes chegam e são avaliados individualmente. Posteriormente, há um período de cerca de seis meses para atividades coletivas. Apesar de coletivas, as atividades também consideram as especificidades dos pacientes, suas rotinas e suas limitações pessoais.

Luciana diz que é comum o Laço receber pacientes com obesidade grave cujo IMC (Índice de Massa Corporal) está em 50 kg/m² ou até 60 kg/m². Assim, os profissionais têm uma dificuldade a mais que é a de recuperar a capacidade de locomoção e a independência dos pacientes.

O Laço não tem protocolos adaptados para atender pessoas que passaram por cirurgia bariátrica. No entanto, o laboratório recebe pessoas inscritas para realização desse procedimento.

Independentemente do caso, o cuidado interdisciplinar é uma chave valiosa para o cuidado da obesidade. Sem o trabalho do Laço, muitos pacientes ficam sujeitos a atendimentos isolados no SUS e enfrentam dificuldades no reagendamento de consultas.

Abordagem completa

Em síntese, Luciane explica porque adotar uma abordagem interdisciplinar: “Os problemas são inúmeros e eles transcendem a vontade de mudança. Mudar comportamento não é possível a partir de uma prescrição dietética. A gente precisa de mais, e o nutricionista sozinho não dá conta. Por isso a gente tem uma equipe gigante de psicólogos”.

O próprio processo de alimentação leva em conta uma série de aspectos como trabalho, família, condições financeiras, etc. “A gente precisa ressignificar a alimentação e nutrição. Temos que perceber o quanto esse indivíduo está pronto de verdade se engajar na nossa proposta”, diz Luciene.

Entre 2022 e 2023, o Laço já atendeu 1.056 pessoas, sendo 968 com obesidade grave. No estado do Rio de Janeiro, cerca de 7,26% da população possui obesidade grau 3, segundo dados do Sisvan de 2023.

Onde conseguir tratamento para obesidade grave

O Laço atende pessoas com obesidade que sejam do estado do Rio de Janeiro. A esses pacientes, é oferecido um tratamento interdisciplinar não cirúrgico. Nesse sentido, eles atendem casos de pacientes com IMC maior ou igual a 30 kg/m², que estejam na faixa etária adulta e que não tenham contraindicação para prática de atividade física.

Localizado na Policlínica Universitária Piquet Carneiro, da Uerj, na avenida Marechal Rondon, 381 – São Francisco Xavier, Rio de Janeiro – RJ.