Racismo tem relação com desfechos negativos em saúde
Relação entre racismo e saúde passa pela dificuldade em acessar alimentação saudável por parte de populações desprivilegiadas
25 de nov de 2024 (atualizado 25 de nov de 2024 às 14h45)

As populações de negros e indígenas no Brasil são aquelas mais expostas a uma alimentação não saudável. A constatação vem de estudos regionais. Com isso, o racismo, estrutural ou não, surge como um fator que agrava desfechos negativos em saúde, entre eles, o surgimento da obesidade.
O racismo pode ser entendido como DSS (Determinante Social da Saúde). Ou seja, o racismo é um fator que influencia na ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. A OMS (Organização Mundial da Saúde) assim reconhece desde 2005.
Desta forma, o racismo é um marcador social quando o assunto é alimentação e nutrição. De acordo com a última PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), de 2019, mulheres pretas são as que mais convivem com a fome e com a obesidade.
Estudos apontam que isso tem relação com a acessibilidade de alimentos. Por exemplo, uma pesquisa conduzida em Porto Alegre mostrou que setores censitários com maior porcentagem de pessoas negras e indígenas tinham cerca de duas vezes mais chances de serem classificados como desertos alimentares.
Desertos alimentares são locais com baixa oferta de alimentos in natura ou minimamente processados. O padrão se repete em Recife e Belo Horizonte, onde setores censitários considerados desertos alimentares tinham maior percentual de residentes negros e indígenas.
Além disso, em Porto Alegre, a população negra também apresentou pior acesso a feiras públicas em todos os modais de transporte. A professora Raquel Canuto, do departamento de nutrição da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), explica o cenário:
“Temos um dificultador para a população negra no Brasil. A população negra mora em áreas com baixo acesso à alimentação saudável e alto acesso a alimentos ultraprocessados. É um primeiro efeito da discriminação racial que define o ambiente onde essas pessoas moram”
Racismo e o acesso à alimentação
Estudos também se aprofundaram na relação entre discriminação racial e o acesso à alimentação. Assim, uma pesquisa publicada em 2019 na revista Ciência & Saúde Coletiva mostrou que o consumo de frutas e verduras é maior em brancos. Enquanto isso, negros e pardos apresentaram maior consumo de feijão, gorduras e açúcares.
Outro estudo, desta vez publicado em 2022 na Frontiers in Nutrition, apontou que o consumo de ultraprocessados entre pessoas de menor posição social, incluindo negros, aumentou nos últimos dez anos. Dados da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) basearam a pesquisa.
Com isso, a relação entre racismo e saúde mostra como a discrminação pode impactar em desfechos negativos no estado nutricional: “A experiência de discriminação foi relacionada à maior incidência de obesidade, mas apenas entre as pessoas de baixo nível educacional”, explica a professora Canuto.
Como tratar do racismo e da saúde
Desta forma, é importante compreender o racismo como determinante social e político de saúde. Com isso, as análises de problemas de saúde, como a obesidade, vão além do nível individual e consideram fatores sistêmicos e coletivos.
A professora Canuto vê como urgente a existência de uma agenda de pesquisa para o Brasil que considere os impactos do racismo em desfechos nutricionais, como sobrepeso e obesidade. A finalidade é embasar políticas públicas focalizadas no enfrentamento a injustiças.
Além disso, a agenda de formação de profissionais de saúde também deve incorporar esses conceitos de racismo e saúde.