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Estigma sobre a obesidade persiste e dificulta cuidado da doença

Discriminação por conta do peso corporal afasta paciente do tratamento e pode resultar em compulsão alimentar

André Derviche Carvalho

24 de ago de 2023 (atualizado 9 de jan de 2024 às 18h01)

Entre os vários desafios que uma pessoa com obesidade sofre, a discriminação aparece como uma das que mais pode atrapalhar o cuidado da doença. Um estudo publicado na revista Psychological Science mostrou que a mortalidade em pacientes com obesidade vítimas do estigma é 60% maior.

Esse cenário pode ser explicado por diversos motivos. A discriminação contra a pessoa com obesidade pode provocar compulsões alimentares e agravar o quadro da doença. Além disso, com o estigma, a pessoa com obesidade se afasta do tratamento, evita exercícios físicos e fica mais sujeita a problemas psicológicos.

“O estigma impacta diretamente a abordagem e a adesão do paciente e o sucesso do tratamento”, aponta a doutora Cynthia Valerio, da diretoria da Abeso (Associação Brasileira para Estudos da Síndrome Metabólica e Obesidade). Com base em sua experiência no consultório, ela lembra que é comum ver pacientes cansados do preconceito e se desculpando pela condição da obesidade.

O estigma é definido como a discriminação de determinado grupo de maior vulnerabilidade por conta de sua condição médica, o que pode gerar isolamento, estereótipos e rotulagem. Ao longo da história, câncer, lepra e tuberculose são algumas doenças alvos de estigmatização por parte da sociedade. A obesidade é mais uma delas.

Como resultado, o estigma sobre a obesidade faz com que o indivíduo se sinta culpado pela sua condição. O peso corporal excessivo, assim, é associado à falta de disciplina e ao fracasso, como se a obesidade fosse uma opção. Importante lembrar, porém, que a obesidade é uma doença multifatorial causada tanto por fatores genéticos quanto por ambientais e até econômicos.

Um estudo publicado na revista Nature em 2020 apontou que cerca de 42% das pessoas com obesidade já sofreram discriminação por conta do peso corporal. Para essas pessoas, o estigma trouxe problemas como atraso em exames de rotina e na busca por tratamento. Com isso, o quadro de obesidade tende a se agravar.

O estigma também pode aparecer na infância: “Quando a discriminação começa desde a infância, o resultado do estigma é ainda mais catastrófico. Há uma associação entre a discriminação relacionada ao peso e o bullying”, explica Cynthia. Vale lembrar que o bullying acaba associado a outros problemas psicológicos que ressoam até a vida adulta, gerando, por exemplo, problemas em relações sociais e na autoestima.

Por isso, é importante que profissionais da saúde estejam atentos aos chamados vieses implícitos que eles trazem a uma consulta. “Viés implícito” é o nome dado às associações inconscientes que influenciam julgamentos e atitudes de forma não controlada. Ele se manifesta em gestos de preconceito e discriminação que médicos podem direcionar a pacientes com obesidade.

Estando atento a esses vieses, o profissional de saúde deve ser acolhedor e cuidadoso durante o tratamento da pessoa com obesidade. Uma solução prática para isso é adotar uma linguagem especial que coloque o ser humano acima da doença. Por isso se utiliza o termo “pessoa com obesidade”, não “pessoa obesa”. A ideia é que a condição não defina a pessoa. Afinal, o indivíduo pode ser portador da doença, mas tê-la sob controle.

Há também a chamada “abordagem dos 5 As”, baseada em cinco ações (em inglês), e deve ser praticada por profissionais de saúde: perguntar, avaliar, advertir, concordar e ajudar. É preciso enxergar além do peso corporal e começar a avaliar a condição de vida do paciente e como ela pode melhorar.

Cynthia lembra que ter dificuldade em realizar esse tipo de abordagem não é a tarefa mais fácil do mundo, afinal, é raro encontrar o combate ao estigma na formação acadêmica de profissionais da saúde.